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Infestação de cupins ameaça o que sobrou

da Mata Atlântica no Alto Jequitinhonha

Publicado em 27 de setembro, às 11h14min. De Aconteceu no Vale

 

Depois do homem, duas espécies de cupins são hoje a maior ameaça para o que sobrou da Mata Atlântica na região do Alto Vale do Jequitinhonha. O cupim branco, que ataca principalmente os canaviais, e o cupim preto subterrâneo, que ataca as árvores. Agricultores em Itamarandiba denunciam que o nível da praga está se tornando alarmante.

 

De acordo com o produtor rural Antônio Eustáquio Neves, 67 anos, proprietário da fazenda Boa Vista, no distrito de Santa Joana, a 23 km de Itamarandiba, os cupins estão atacando as raízes das árvores e destruindo toda a seiva delas em um curto espaço de tempo. “É triste ver como as árvores estão morrendo por aqui”, afirma o agricultor.

 

Antônio Eustáquio diz que os cupins também estão atacando os canaviais provocando enormes prejuízos. “De cinco pés de cana, dois são dos cupins”, observa o agricultor.

A praga vem se alastrando com uma velocidade incontrolável nos últimos 30 anos e colocando em risco as florestas da região próximas ao parque da Serra Negra, uma unidade de conservação com mais de 13 mil hectares, reconhecida pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Ciência Educação e Cultura.

 

O lavrador João Bispo, 32 anos, conhece como ninguém, as matas que cercam o Parque da Serra Negra. Morador do distrito de Santa Joana, ele revela que os cupis estão ameaçando espécies como o cedro, braúnas, ipês, jacarandás, perobas, entre outras madeiras de lei existentes na região.

O produtor rural Antônio Eustáquio, de Itamarandiba,

mostra colônias de cupins que estão destruindo as matas da fazenda dele 

Para os engenheiros florestais, o meio mais eficaz de controle da praga é com o uso de agrotóxicos. No entanto, os pequenos agricultores temem o envenenamento do solo e das inúmeras nascentes que banham a região, como as do Córrego do Bananal e o do rio Itamarandiba.

 

A região do Alto Jequitinhonha, concentra a maior reserva de floresta artificial do planeta, com cerca de 400 mil hectares de área de eucalipto plantada, principalmente nos municípios de Turmalina, Capelinha, Itamarandiba e Carbonita.

 

A planta foi introduzida na região no início da década de 1970. Os pequenos agricultores acreditam que o eucalipto seja um dos responsáveis pela proliferação dos cupins.

 

Eles lembram que os predadores naturais da praga são as aranhas, vespas, besouros, tamanduás e tatús. Mas as formigas são responsáveis por quase 100% de mortalidade deles.

 

Com o desmatamento das florestas para dar lugar às matas de eucalipto, onde foi necessário o uso de fertilizantes e inseticidas, muitos desses predadores desapareceram, principalmente os tamanduás e os tatus.

 

Ainda de acordo com os agricultores da região, órgãos do Estado como a Emater e o IEF – Instituto Estadual de Florestas – não fornecem nenhuma orientação de como proceder para controlar os cupins.

 

Quem são eles

 

Das 250 espécies de cupins existentes no Brasil, apenas duas são consideradas pragas: o cupim subterrâneo, vindo do sudeste da Ásia e o de madeira seca, vindo das Antilhas.

 

As duas espécies chegaram ao Brasil, na década de 1920, cravadas em navios vindos da Ásia. É capaz de devorar bibliotecas e florestas inteiras em pouco tempo, sem que ninguém se dê conta.

 

O cupim subterrâneo é a praga mais voraz porque sobrevive de 2 a 3 metros de profundidade. “Por isso não conseguimos acabar com eles. Já não sabemos mais o que fazer”, lamenta o produtor rural Antônio Eustáquio.

 

Para se acasalar a espécie voa em enxames durante o verão, chegando atingir distâncias de até 10 km, levada pelo vento e migrando em direção a outras localidades onde existem madeira.

 

Embora os cupins possam ser considerados benéficos, porque atuam na decomposição da matéria orgânica, colaborando na ciclagem dos minerais, eles se destacam como pragas mais daninhas às culturas florestais, como a do eucalipto.

 

Em florestas naturais, as árvores geralmente são tolerantes ao ataque deles, mas as florestas plantadas são atacadas, do plantio à colheita, por muitas espécies que causam danos consideráveis.

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